9 de mar. de 2011

Revista Vibe (2002)

Regina Jones é a escritora. Ela disse que conheceu Michael quando ela tinha 33 anos no especial de Diana Ross. Ela escreveu para a revista "Soul" e manteve contato com a família como uma convidada regular até o cancelamento da revista. O rancho "Vale da Terra do Nunca" de Michael tem 2.700 acres. Jones disse que foi recebida por alguns dos 70 membros "excessivamente amigáveis" da equipe de Michael. Eles ajudaram o Rei do Pop a manter a organização das visitas (na maior parte das vezes, crianças) a cada ano, com doenças terminais.

Michael está vestido com calças pretas, meias brancas, sapatos pretos e uma camisa amarelo-claro, e recebe Jones com um caloroso alô e um grande abraço. Ele pede desculpas pois precisa falar com seu filho Prince, 5, e Paris, 3, que acabaram de voltar de uma longa caminhada; eles ficaram conversando sobre seus dias. Enquanto Michael passava tempo com seus filhos, Jones deu uma olhada no rancho antes de escurecer. Ela descobre o parque de diversões, pátio, estação de trem, fliperama, zoológico, piscina, banheira com água quente, a tenda dos carros, e várias áreas onde animais andam soltos. Os animais incluem: chita, um pônei, um papagaio, vários cervos, e um lhama (onde está o macaco?!?).

Michael está pronto para conversar 45 minutos depois. Jones mostra velhas fotos de Michael que ela tirou durante os tempos da revista SOUL. Ele olha e ri. Ele pergunta se ela ainda lembra da entrevista (naquela época, Janet era quem intermediava as entrevistas, pois ele não podia falar com os repórteres diretamente). Isto foi o que ele disse, "Fiquei com medo. Pensava que, se minha irmã está lá, a pessoa será mais bondosa comigo."

Muitas vezes animado, Michael vai de um sussurro para uma risada rouquenha num segundo. Ele só não quis falar da cirurgia plástica. Ele disse, "É um assunto estúpido, e é por isso que não dei entrevistas durante anos." Jones até perguntou sobre sua saúde financial, e ele anulou o assunto dizendo, "Estou tomando cuidado." Claro que ele está, ele é dono da metade da Sony/ATV Publishing. Toda vez que alguém grava ou apresenta uma das canções do 'ATV Book' ele ganha a metade do dinheiro. Com 43 anos, Michael está de volta com Invincible e foi número 1 no chart Billboard 200. Seu especial no Madison Square Garden bateu recordes para a CBS. Jones diz que não importa o que mudou na vida de Michael -- ele permanece cuidadoso, curioso e sensível.

VIBE: Como é competir em vendas com artistas como N'SYNC e Britney Spears, crianças que nasceram no auge de sua carreira?
MICHAEL JACKSON: É uma raridade. Tenho recordes Nº 1 desde 1969, e ainda entrei nos charts de 2001 em Nº 1. Acho que nenhum outro artista conseguiu isso. É uma grande honra. Estou feliz, Não sei mais o que dizer. Estou feliz pelas pessoas aceitarem o que faço.

VIBE: O que você pensa sobre o estado atual do R&B?
MICHAEL JACKSON: Não categorizo a música. Música é música. Eles mudaram a palavra R&B para rock 'n' roll. Foi sempre assim, de Fats Domino a Little Richard e Chuck Berry. Podemos discriminar? É o que é - grande música, você sabe.

VIBE: Está se sentindo hip hop?
MICHAEL JACKSON: Gosto muito dele, MUITO. Gosto da música. Mas não gosto muito da dança. Parece como aeróbica. (risos)

VIBE: Como você decidiu trazer Biggie Smalls (Notorious BIG) em "Unbreakable," de Invincible?
MICHAEL JACKSON: Não foi minha idéia, na verdade. Foi de Rodney Jerkins, um dos escritores/produtores do álbum. Eu só queria um rap na canção, e ele disse, "Conheço um perfeito -- Biggie." Ele colocou, e funcionou perfeitamente.
VIBE: Por quê você escolheu Jay-Z para o remix do primeiro single, "You Rock My World"?
MICHAEL JACKSON: Ele está atualizado, coisa nova, e ele está com os garotos hoje. Eles gostam dele. Ele está nos nervos da cultura popular. Faz sentido.

VIBE: Como foi aparecer no concerto Hot 97 Summer Jam como convidado de Jay-Z?
MICHAEL JACKSON: Eu apenas apareci e o abracei. Houve uma explosão tumultuosa de aplausos, boas vindas amáveis e fiquei feliz. Foi um grande sentimento, o amor, o AMOR.

VIBE: Você se aborrece quando vê pessoas te imitando, como Usher, Sisqo, Ginuwine, e até Destiny's Child?
MICHAEL JACKSON: De jeito nenhum. São artistas que cresceram com minha música. Quando você cresce e ouve alguém que você admira, a tendência é que você se transforme neles. Você quer se parecer com eles. Quando eu era criança, eu era James Brown, Sammy Davis Jr., então eu entendo. É um cumprimento.

VIBE: Você sabia que estava criando clássicos eternos quando gravava THRILLER e OFF THE WALL?
MICHAEL JACKSON: Sim, sem ser arrogante, mas sim. Porque eu conheço boa música quando ouço, e melodicamente, e musicalmente é emocionante. Elas cumpriram a promessa.

VIBE: Você acha que os artistas negros são bem aceitos hoje?
MICHAEL JACKSON: Acho que as pessoas sempre admiraram a música negra desde o começo. Hoje, o mercado está aceitando o fato de que aquele é o som. De Britney a N'Sync, todos eles fazem R&B. Até Barry Gibb do BeeGees, ele me conta (imitando o sotaque britânico), "Cara, fazemos R&B." Eu disse, Barry, eu não categorizo, mas é uma grande música. Entendo de onde ele veio. Amo a grande música - ela não tem cor, nem fronteiras.

VIBE: Parece que você está gostando da vida de pai solteiro.
MICHAEL JACKSON: Nunca tive diversão na minha vida. É a verdade. Porque sou este 'crianção', e agora tenho que ver o mundo através dos olhos realmente mais jovens. Aprendo mais com eles do que eles comigo. Estou constantemente experimentando coisas novas e testando coisas neles para ver o que funciona e o que não. Crianças são sempre os melhores juízes para monitorar algo. É por causa disso que Harry Potter faz tanto sucesso -- é um filme orientado à família. Não pode dar errado. Por isso que não digo coisas em minhas letras que possam ofender os pais. Não quero ser daquele jeito. Mamãe e Joseph não diriam coisas como aquelas.

VIBE: O que Prince e Paris ouvem?
MICHAEL JACKSON: Todo tipo de música, e eles amam música clássica, que toca em todo o rancho. Eles gostam também de músicas dançantes.

VIBE: Como você se sente sobre seus filhos se tornarem ícones pop, como você?
MICHAEL JACKSON: Não sei como eles lidariam com isso. Seria difícil. Realmente não sei. É duro, a maioria dos filhos de celebridades acaba se tornando auto-destrutiva, porque não conseguem ter o mesmo talento de seus pais. As pessoas sempre diziam a Fred Astaire Jr., "Você pode dançar?" E ele não podia. Ele não tinha ritmo, mas seu pai foi um grande dançarino, um gênio. Não quer dizer que ele tenha falecido. Sempre digo aos meus filhos, vocês não têm que cantar, vocês não têm que dançar. Seja quem vocês queiram ser, enquanto não estiverem machucando ninguém. É o principal.

VIBE: Quais foram suas influências?
MICHAEL JACKSON: Stevie Wonder é um profeta musical. A Motown toda. Os Beatles. Sou louco por Sammy Davis Jr., e Charlie Chaplin, Fred Astaire, Gene Kelly, Bill "Bonjanles" Robinson- o apresentador real, a coisa real, não apenas efeitos, aplausos. Quando James Brown foi o Famous Flames, foi incrível. Existem grandes cantores como Whitney Houston, Barbara Streisand, Johnny Mathis. Estilistas verdadeiros. Você ouve uma linha, e sabe quem é. Nat "King" Cole, grande material. Marvin Gaye, Sam Cooke - foram todos ridículos. (? Mike realmente disse aquilo?!?)

VIBE: Você estava envolvido na seleção dos artistas para seu especial de aniversário de 30 anos?
MICHAEL JACKSON: Não completamente.

VIBE: Como você foi capaz de deixar ir algo tão grande e tão especial?
MICHAEL JACKSON: Confiança.

VIBE: Qual foi sua experiência no dia 11 de setembro?
MICHAEL JACKSON: Eu estava em Nova Iorque (depois de se apresentar nos dias 7 e 10, no Madison Square Garden), e recebi uma ligação de meus amigos da Arábia Saudita, dizendo que a América estava sendo atacada. Liguei a TV e vi as Torres Gêmeas desabando, e eu disse, ó meu Deus. Gritei para nossas pessoas no corredor. Saiam todos, vamos partir agora! Marlon Brando estava no final, nosso segurança no outro. Estávamos todos lá, Elizabeth Taylor estava em outro hotel. Pulamos no carro, mas, haviam garotas que estavam no show do dia anterior, e elas batiam nas janelas, correndo na rua e gritando. Os fãs são tão fiéis. Ficamos escondidos em Nova Jersey. Foi incrível - Morri de medo.

VIBE: Qual a sua recreação?
MICHAEL JACKSON: Gosto de lutas com balões d'água. Tínhamos um forte aqui, e tivemos um time vermelho e outro azul. Temos fundas e canhões, e você é molhado e quando acaba o tempo, acaba o jogo. Existe um relógio, e quem ganhar mais pontos vence. Se faço algum tipo de esporte, tenho que rir. Não faço nada como basquetebol ou golfe. Basquete é muito competitivo, e assim é o tênis, eles te deixam furioso. Não gosto. Deveria ser terapêutico. Também gosto de parques de diversões, sair com animais, coisas assim.

VIBE: Você tem a fantasia de algo que você gostaria de ver por sua vida toda?
MICHAEL JACKSON: Amaria ver um Dia das Crianças internacional para honrar nossas crianças, porque o laço familiar foi quebrado. Existe um Dia das Mães e um Dia dos Pais mas não há um Dia das Crianças. Significaria muito. Realmente. Paz mundial. Espero que nossa geração veja um mundo pacífico, não esse de agora.

VIBE: O ato de cantar parou de ser divertido e se tornou um trabalho?
MICHAEL JACKSON: Sempre foi divertido. A menos que eu fique psicologicamente doente, é divertido. Eu ainda amo isso.

VIBE: Muitos de nós o vêem como uma figura histórica, um inovador que determinou um padrão que ainda existe. Para onde Michael Jackson vai?
MICHAEL JACKSON: Obrigado, obrigado. Tenho um amor incrível por filmar e quero trabalhar também nessa área, produzir filmes, para trazer entretenimento.

VIBE: Que tipo de filmes? Está procurando por roteiros?
MICHAEL JACKSON: Sim, mas nada foi acertado ainda.

VIBE: Você está sempre sozinho?
MICHAEL JACKSON: É claro. Se estou no palco, estou bem lá. Mas você pode ter uma casa cheia de pessoas e ainda estar sozinho lá. Não estou reclamando, porque acho que isso é bom para meu trabalho.

VIBE: Diga-me sobre a inspiração para "Speechless". É muito apaixonante.
MICHAEL JACKSON: Você ficará surpresa. Estava com estas crianças na Alemanha e tivemos uma grande luta com balões d'água - sério - e eu estava tão feliz após a luta que eu subi as escadas da casa delas correndo e escrevi "Speechless." A diversão me inspira. Odeio dizer isso, porque é uma canção romântica. Mas foi a luta que fez. Estava feliz e escrevi a canção toda lá. Achei que seria boa o bastante para o álbum. Fora da felicidade vem a mágica, maravilha e criatividade.

VIBE: Você coleciona alguma coisa?
MICHAEL JACKSON: Gosto de qualquer coisa que tenha a ver com Shirley Temple, os pequenos canalhas e os Três Patetas. Amo Curly. Até fiz um livro sobre ele. Eu e sua filha escrevemos.

VIBE: Algo que você queira dizer aos leitores da VIBE?
MICHAEL JACKSON: Amo Quincy Jones. Realmente. E também, quero dizer aos leitores para não julgar a pessoa pelo que eles lêem ou ouvem, a menos que tenha sido dito pela própria pessoa. Existe muitos tablóides sensacionalistas. Não se prenda a eles, é feio. Gostaria de pegar todos os tablóides e queimá-los. Pode colocar isso na entrevista! Alguns deles querem se disfarçar, mas eles ainda são os tablóides.

VIBE: Finalmente, como você direciona sua criatividade?
MICHAEL JACKSON: Não forço, deixo a natureza tomar seu curso. Não sento ao piano e penso, vou escrever a maior canção de todas. Não dá certo. Tem que ser dado a você. Acredito que já esteja pronto antes de você nascer, e cai em sua cabeça. É a coisa mais espiritual do mundo. Quandl ela vem, vem com todos os acompanhamentos, as cordas, o baixo, a bateria, as letras, e você só intermedia o canal. Às vezes, me sinto culpado por colocar meu nome nas canções - escrito por MJ - porque é como se os céus já a tivessem feito. Como Michaelangelo teria sua grande peça de mármore e das pedreiras da Itália e ele diria, "Dentro disso existe uma forma adormecida." Ela pega um martelo e um chisel, e só o está libertando. Já está lá. Já está lá.

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